Decorar os textos da passagem e transmiti-los com naturalidade tem sido um grande desafio neste semestre. Acredito que este é o grande desafio de um repórter profissional em seu cotidiano, ler, reler, repassar, fechar os olhos e ensaiar, assimilar o texto, entender e, por fim, retransmitir, sem erros e olhando fixamente para a lente da câmera.

            Em uma de minhas primeiras gravações no papel de repórter, iríamos cobrir um evento de dança organizado pelo curso de Educação Física. O texto da passagem era enorme, coisa de dez linhas, quatro parágrafos, eu estava desesperado, descabelado também. O despreparo também era inimigo, só pensava o quanto eu parecia bêbado com a barba malfeita e a camisa dois tamanhos maior, credibilidade zero.

            Enquanto me preparo psicologicamente lendo o texto contínuas vezes, deparo-me com o nome da entrevistada: Zigrid Bitter! Sim, agora me responda, com tantos problemas, agora tinha que pronunciar sem cometer gafes esse nome anglo-saxônico.

            Começa a entrevista e o nome eu acertei, mas não conseguia falar duas linhas do texto. E tentava de novo, e de novo, até que na décima quinta vez o desespero bateu, tive que parar, tomar uma água e a produtora sugeriu, numa tentativa inglória de salvar minha dignidade, que parte daquela passagem gigantesca fosse convertida em off. Feito isso, voltamos à entrevista.

            A professora Zigrid, muito compreensiva e paciente, esperou que dessa vez fosse sair, mas esse repórter mirim, agora com fama de maconheiro, esqueceu o restinho do texto que lhe sobrara, e não satisfeito de tamanha vergonha deu um abraço na profª Zigrid.

            O abraço fez efeito. O texto saiu, finalmente, eu mesmo editei e para quem assistiu à matéria, nada disso fez diferença, a não ser a cara de repórter andarilho deste que escreve.


Victor Masson